sexta-feira, 31 de março de 2017

TÓPICOS ESPECIAIS EM LINGUAGEM

LITERATURA



Cultura é o que o homem produz, o seu modo de agir e de pensar, porém a cultura se desdobra em duplo sentido. Sendo que na origem cultura tem derivação no cultivo, relativo à plantação, seu significado expande tanto do plantio à colheita quanto do saber e do conhecer, mas em ambos os casos está associada aos sistemas de reprodução e disseminação. 

Significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro. 

A palavra cultura vem do inglês coulter que significa “relhar dede arado”, sendo que no início denotava um processo completamente material.




Cultura abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde artefatos e objetos até ideais e crenças.

Cultura é todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo independente da questão biológica.


Devido a grande diversidade cultural do Brasil é necessário o reconhecimento de que cada povo possui sua própria maneira de viver, ou seja, cada um possui os seus hábitos e costumes, sendo necessário respeitar as diferenças e as individualidades que caracterizam cada nação.



A respeito da origem da palavra e como consequência também da utilização que se lhe dará ao termo, mais ou menos, se remonta à Idade Média, quando a usavam para se referir ao cultivo da terra e o gado, já que provém do latim cultus que significa cuidado do campo e do gado, entretanto, quando se estava no século XVIII ou Século das Luzes como também a conhecem , na qual nasceu em muitos uma profunda vocação pelo cultivo do pensamento, imediatamente o termo mudou para o sentido figurado de cultivar o espírito.

Em uma concepção tradicional, cultura é a reunião de conhecimentos e saberes acumulados pela humanidade no decorrer de seus milênios de anos de história. Encontra-se em todas as sociedades sem distinção de raças, lugares ou períodos. A cultura está composta por vários sistemas estruturados de comportamentos.

Os antropólogos, que sempre trataram das questões culturais, optaram por passar de um conceito de cultura como uma reunião de características quase casuais a um conceito que ressalta mais as relações e as disposições sistemáticas e estruturais. Segundo alguns deles, cultura seria um conjunto complexo de conhecimentos, crenças, e costumes incluindo toda expressão artística, além de todos os hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.

Pode-se resumir modernamente cultura como o conhecimento que uma pessoa adquire e aprende por sua condição de membro de um determinado grupo em um processo de socialização.


       CULTURA POPULAR


Caracteriza-se como elementos culturais pertencentes a uma sociedade ou região, na qual a população pratica constantemente e de forma ativa, através de diferentes manifestações como dança teatro, arte, literatura, folclore, gastronomia, música, etc.

A cultura popular compreende o artesanato, as indústrias caseiras e tudo aquilo que acompanhar a tradição manufatureira. Refere-se à interação entre pessoas de uma mesma sociedade, essa varia de acordo com as transformações ocorridas no meio social.


Pode ter várias origens, já que uma comunidade pode ser composta por pessoas de vários territórios que compartilham a cultura de sua nação formando uma nova, e também abrange todas as classes sociais.

A cultura popular compreende o artesanato, as indústrias caseiras e tudo aquilo que acompanhar a tradição manufatureira. Apesar de considerarem o folclore popular, é preciso que o motivo, fato ação seja antigo na memória do povo, anônimo na sua autoria, divulgado em seu conhecimento e persistente nos repertórios orais ou hábito normal.  






A cultura popular também pode ser chamada de cultura de massas ou cultura tradicional, e geralmente é passada de geração em geração, a qual é facilmente aderida e pode ser constituída sob vários aspectos, inclusive em relação aos problemas sociais.

A cultura popular é o oposto da cultura de elite, pois representa os costumes e as tradições de um povo; é transmitida na maioria das vezes através da linguagem oral dos mais velhos para os mais novos, e seu principal protagonista é o artista, a população, a periferia, ou seja, quem produz as manifestações, não o resultado delas.

A depender da região ou país, a cultura popular pode ser secular ou até milenar, mas isso não quer dizer que novos e diferentes elementos deixam de ser acrescentados constantemente, pelo contrário, à medida que ocorre a miscigenação da sociedade, novas formas de manifestações tendem a ser acrescentadas.


A cultura de massas brasileira é uma das mais ricas do mundo; diversificada em todos os sentidos, pois possui diferentes elementos em cada uma das regiões. Essas variações são mais fortes na gastronomia, música, dança e na linguagem oral. Na música, ritmos como o samba, o axé, o sertanejo e a bossa nova são os mais conhecidos internacionalmente como próprios da cultura brasileira; já os elementos como a capoeira e a literatura de cordel, são mais praticados regionalmente.

A cultura popular é derivada de várias origens, porém é muito impulsionada pelas empresas que tem nela seu principal negócio, como por exemplo, as indústrias fonográficas que promovem a música popular, o rádio, a televisão e o cinema.



Peter Burke (1978) diz que se todas as pessoas de determinada sociedade partilhassem da mesma cultura não teria a necessidade de usar a expressão “cultura popular”.
A cultura popular identifica a cultura vivenciada por um determinado povo, assim como é o cultivo dos elementos, significados e valores comuns ao povo.

Para muitos estudiosos, a cultura popular brasileira se encontra
 fragmentada e dividida em dois níveis:



Cultura Erudita
São as obras-primas que revolucionam os diversos campos do saber e da ação, como as descobertas científicas, os novos modos de pensar, as técnicas revolucionárias, as grandes obras literárias ou artísticas.


Apreciada por um público com maior acúmulo de capital e seu acesso é restrito a quem possui o necessário para usufruir dela. A cultura erudita está muitas vezes ligada a museus e obras de arte, óperas e espetáculos de teatro com preços elevados. Existem projetos que levam esse tipo de cultura até as massas, colocando a preços baixos, ou de forma gratuita, concertos de música clássica e projetos culturais.

Como o acesso a esse tipo de cultura fica restrito a um grupo pequeno, ela fica ligada ao poder econômico e é considerada superior. Essa consideração pode acabar tornando-se preconceituosa e desmerecendo as outras formas de cultura. O erudito é tudo aquilo que demanda estudo muito estudo, mas não se deve pensar que uma expressão cultural popular como o hip-hop, por exemplo, é pior que uma música clássica.




Cultura das classes mais pobres
É aquela que possui menor relevância no meio acadêmico. Sendo em alguns casos uma cultura anônima por não carregar a sua autoria.

Rosa Vermelha desapareceu
Para onde ela foi, é um mistério.
Porque ao lado dos pobres combateu
Os ricos a expulsaram de seu império
                (Paulo César de Souza)





Cultura do Piaui


 história e a cultura do povo piauiense devem muito à figura do vaqueiro, símbolo do Piauí, esse personagem contribuiu sensivelmente para a formação do caráter desse povo. Misto de rebeldia e subserviência aos donos de gado, terra e gente, o vaqueiro ora dizia: 'ôxente, nem morto!', ora, simplesmente: ‘sim senhor, coronel!


                    



O Piauí tem uma cultura riquíssima, e toda ela está permeada pelas histórias da formação sócio econômica do estado. As primeiras fazendas, o gado, o vaqueiro, o coronel, a terra, os rios Piauí, Parnaíba... E o 'índio'? (Esses povos foram dizimados fisicamente pelos colonizadores e, posteriormente, excluídos da história do estado do Piauí pelos filhos dos colonizadores, que continuam 'a fazer' a história oficial do Piauí).




Tudo isso aparece em nosso folclore, em nossos folguedos com grande força! O Bumba Meu Boi, o Reisado, a história de 'Catirina', a mulher do vaqueiro que desejou comer a língua do mais formoso boi da fazenda, são algumas dessas histórias lendas do Piauí.



A festa do vaqueiro, que acontece em quase todo o estado, é hoje uma das mais importantes comemorações da cidade de São João do Piauí. Coincidentemente, ocorre às vésperas do dia de São João, em nosso caso, São João Batista, no mesmo dia em que se realizam as festas do 'Boi' (Bumba Meu Boi, Boi de São João, ou simplesmente Boi do Piauí). Por essa coincidência, poderiam os organizadores da festa do vaqueiro de São João do Piauí, incluírem na programação uma apresentação do 'Boi de Reis', já que não temos o 'Bumba Meu Boi', afinal, um e outro folguedo fazem parte da tradição do nosso estado, mesmo que tenham conteúdos e formas diversas e sejam comemorados em datas distintas.


O Piauí é um Estado rico em cultura popular. Um dos pontos mais fortes são as lendas. A imaginação do povo faz perpetuar histórias cheias de personagens interessantes. O Cabeça de Cuia é a mais famosa delas. Conta a história de um pescador chamado Crispim, que depois de um dia inteiro sem ter conseguido pescar um único peixe, morto de fome, ao chegar em casa a única refeição que lá encontrara foi uma espécie de caldo feito com o osso “corredor do boi”, mas que não tinha carne e só o caldo do osso. Revoltado pela situação, Crispim pegou o osso e começou a espancar a sua própria mãe! Bateu tanto que sua mãe veio a falecer. Mas antes do suspiro final, ela olhando pra Crispim lhe jogou uma maldição, na qual ele se transformaria em um monstro e viveria nas profundezas do rio Poti. Conta a lenda que o Cabeça de Cuia costuma aparecer aos pescadores, lavadeiras e banhistas em noites de lua cheia. Sua enorme cabeça surge e desaparece na superfície das águas. O encanto só terá fim quando ele conseguir devorar sete Marias virgens!




Conjunto de tradições e manifestações populares constituído por lendas, mitos, provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração. A palavra tem origem no inglês, em que "folklore" significa sabedoria popular.

Rico e variado, pois sofreu influências de diversas culturas em seu processo de formação: europeia (portugueses, holandeses, franceses, etc.), africana, indígena, entre outros povos. Toda essa mistura deu origem a provérbios e lendas bastante peculiares, com uma força e imaginário próprios. 

Conjunto de práticas, histórias, tradições e formas de pensar que pertence a um determinado povo, foi disseminado oralmente e resistiu ao tempo.




Para que algo seja considerado folclórico ̶ seja um hábito, seja uma brincadeira, seja uma música, seja uma história etc. - ele precisa fazer sentido para um grupo, em um determinado contexto, e resistir ao tempo. A transmissão do saber acontece no convívio social, seja em casa ou na sociedade. "Muitas vezes, quando vai se conceituar o que é folclore, há uma tendência a valorizar o fenômeno em si e o conhecimento é apartado do praticante. Não dá para separar o grupo humano de seu saber. É preciso valorizar as pessoas que são responsáveis pela divulgação dessas informações", alerta o professor Alberto Ikeda, da Unesp.

Outro aspecto que deve ser ressaltado é que o folclore se atualiza. Um trabalho de renda feito artesanalmente por uma comunidade local, cuja técnica foi transmitida por várias gerações, pode ganhar temáticas contemporâneas e também utilizar novos materiais, mas a essência permanece. O mesmo acontece quando surgem variantes de uma cantiga ou brincadeira.

O folclore também pode ganhar novas manifestações. Um exemplo são as frases dos para-choques de caminhão. Esse tipo de comunicação mostra a personalidade, reforça a identidade e os valores de um grupo específico.

Carlos Rodrigues Brandão, em seu livro "O que é Folclore", explica quer o termo foi cunhado em 22 de agosto de 1846, quando o escritor britânico William John Thoms o utilizou pela primeira vez em uma carta enviada à revista londrina The Atheneum. No texto, ele usou "folk (povo)-lore (saber)" para designar o saber tradicional do povo, em vez do termo, então corrente, tradições popular.



Cascudo (1954) diz que para ser folclore é necessário que o motivo e o fato ação sejam antigos na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento, bem como persistente nos repertórios orais ou no hábito normal.

O folclore é que pesquisa os elementos que nos separam de outras nações, o que é característico do nosso povo”, explica a professora de Antropologia da UFMG Ana Lúcia Modesto. Para ela, mesmo que festas e costumes nos tenham sido trazidos de outros países, receberam certos traços aqui que os modificaram e os incorporaram à nossa cultura. As festas juninas e as procissões são exemplo disso.

O folclore é popular, mas nem tudo que é popular é folclore



quinta-feira, 16 de junho de 2016

LITERATURA E CULTURA AFRO- 
BRASILEIRA E INDÍGENA


Literatura afro-brasileira – um conceito em construção, processo e devir. Além de segmento ou linhagem, é componente de amplo encadeamento discursivo. Ao mesmo tempo dentro e fora da literatura brasileira. Constitui-se a partir de textos que apresentam temas, autores, linguagens mas, sobretudo, um ponto de vista culturalmente identificado à afrodescendência, como fim e começo. Sua presença implica redirecionamentos recepcionais e suplementos de sentido à história literária canônica.




A existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou também sua formação cultural. A miscigenação entre africanos, indígenas e europeus é a base da formação populacional do Brasil. Dessa forma, a matriz africana da sociedade tem uma influência cultural que vai além do vocabulário.



A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da África durante o longo período em que durou o tráfico negreiro transatlântico. A diversidade cultural da África refletiu-se na diversidade dos escravos, pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas diferentes e trouxeram tradições distintas. Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Assim como a indígena, a cultura africana foi geralmente suprimida pelos colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português, eram batizados com nomes portugueses e obrigados a se converter ao catolicismo.




Os africanos contribuíram para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dança, música, religião, culinária e idioma. Essa influência se faz notar em grande parte do país; em certos estados como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul a cultura afro-brasileira é particularmente destacada em virtude da migração dos escravos.





Religiosidade


Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território. Largamente distribuída também é a umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a associação de santos católicos com os orixás.


Candomblé


Candomblé é uma palavra africana que significa dança. Propriamente, é uma dança religiosa na qual se reza para os orixás. Esta dança é uma invocação feita em roda e praticada por mulheres chamadas de sambas, daí o nome tão comum em nosso Brasil a roda de samba. 

Todos os seguidores das religiões afro-brasileiras têm seu orixá. Acreditam que todos os seres humanos nascem da Natureza, em um determinado dia, lugar e hora sob o comando de um orixá que será seu protetor por toda a vida. No Candomblé, o orixá é uma força da criação divina, manifestação de Olorum, o criador de tudo (Deus).



Culinária

A influência da cultura africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia, onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé.



Musicalidade   


Há também alguns instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o afoxé e o agogô, que são de origem africana. O berimbau é o instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os passos da capoeira, mistura de dança e arte marcial criada pelos escravos no Brasil colônial.
Capoeira


A capoeira, mistura de dança, luta e música, surgiu com os negros, que a utilizavam como arma de defesa. Durante a escravidão, reuniam-se em roda, após o trabalho, para cantar, dançar, jogar capoeira ou reverenciar com música os seus orixás.

Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território. Largamente distribuída também é a umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a associação de santos católicos com os orixás.

A influência da cultura africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia, onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé.

O samba, afoxé, maracatu, congada, lundu e a capoeira são exemplos da influência africana na música brasileira que permanecem até os dias atuais. A música popular urbana no Brasil Imperial teve nos escravos que trabalhavam como barbeiros em Salvador e Rio de Janeiro uma de suas mais ricas expressões. Instrumentos como o tambor, atabaque, cuíca, alguns tipos de flauta, marimba e o berimbau também são heranças africanas que constituem parte da cultura brasileira. Cantos, como o jongo, ou danças, como a umbigada, são também elementos culturais provenientes dos africanos.



Historiadores como João José Reis chegam a afirmar que essa cultura da diáspora negra, essa cultura dos africanos saídos do continente, caracterizada pelo otimismo, pela coragem, musicalidade e ousadia estética e política, foi incomparável no contexto da chamada Civilização Ocidental. Como não foi fácil a vida em terras americanas, precisando lutar para sobreviver, a criação cultural “com a expressão de liberdade que a cultura negra possui” foi “um lutar dobrado” para imprimir na cultura brasileira sua influência.


Precursores da Literatura Afro-Brasileira





A Literatura Afro-brasileira escrita nesse sistema é simultaneamente Literatura Brasileira que expressa uma visão de mundo específica dos afro-brasileiros. A dinâmica de tensões e contradições presentes nesse quadro literário nos ajuda a compreender as atitudes dos autores que recusam ou que valorizam suas origens étnicas; nos esclarece também sobre a necessidade de denunciar a opressão social e de evidenciar uma nova sensibilidade que apreenda esteticamente o universo da cultura afrobrasileira.

A referência a autores afro-brasileiros se inicia com o poeta e músico mestiço DOMINGOS CALDAS BARBOSA (1738-1800). Caldas Barbosa filiou-se ao Arcadismo, escola literária que seguiu os modelos da antiguidade clássica. O poeta inseriu na poesia árcade recursos da "fala brasileira", com aspectos do vocabulário mestiço da colônia. Escreveu modinhas, lundus e seus poemas foram preparados para serem cantados. Radicou-se em Lisboa, onde pertenceu à Nova Arcádia Lusitana. Obras: Epitalâmio (1777), Viola de Lereno (1798).





Em 11 de outubro de 1825 - Nasceu  em São Luis do MA, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra autodidata, que em 1859, lançou o romance Úrsula. Maria Firmina faleceu em 11/11/1917.

Em 1880, fundou a primeira escola mista e gratuita do Maranhão, o que causou grande alvoroço. Nunca se casou, e faleceu em 1917, aos 92 anos. Sua importância na história da literatura brasileira só foi devidamente reconhecida a partir dos anos 70 – até então, não passava de um nome em uma nota de rodapé.

Ao escrever Úrsula, Maria Firmina assinou como “Uma Maranhense” –  pseudônimo que se justifica nas limitações, nos preconceitos a que as mulheres eram submetidas e ainda no tratamento absolutamente inovador que a autora dá ao tema da escravidão no contexto do patriarcado brasileiro. 

O romance trata de uma trágica história de amor entre dois jovens: a pura e simples Úrsula e o nobre bacharel Tancredo, e, aparentemente, é uma clássica história de amor impossível com final trágico. Maria Firmina dos Reis Ursula Obras A obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, foi publicada em 1859.

Foi a primeira mulher brasileira a ter um romance publicado. O livro é considerado pela maioria dos historiadores o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, e também, o primeiro romance da literatura afrobrasileira, isto é, uma obra produzida por uma autora afrodescendente. Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917), escritora e educadora, nasceu na ilha de São Luís, capital

Maria Firmina foi aquela que não se deixou intimidar, que recusou-se à condição feminina de mera subserviência, que não desistiu de suas aspirações mas, superando suas limitações espaciotemporais, foi além, usando a sua escritura como arma de combate, demonstrando que a mulher é, sim, capaz de atuar produtivamente numa sociedade, sem ter que viver na subserviência, subestimada em sua inteligência e competência. 


Senhor Deus! quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo – e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... a aquele que também era livre no seu país... aquele que é seu irmão?! 

E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista.” ( Trecho que retrata a escravidão )


LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA (1830-1882), filho de negra africana e de português. Foi vendido pelo pai aos dez anos de idade. Libertou-se, estudou, tornou-se advogado, orador e jornalista. Abraçou a causa do abolicionismo e sua obra poética reflete o empenho em defender suas origens étnicas. Usou a sátira para criticar a sociedade brasileira mestiça que pretendia fazer-se europeia. Na poesia, Luiz Gama rompeu os padrões de beleza da mulher branca e de atenuação da Cor através da imagem da mulher morena. O poeta cantou liricamente o amor pela mulher negra, ressaltando sua sensibilidade.

ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (1823-1864), filho de escrava mestiça de índio e negro. Sua obra considerada de maior relevância se situa no campo do indianismo, com poemas de significativa força lírica e épica. O tratamento do tema do negro se dilui em sua poesia, principalmente quando a imagem heroicizada do índio é erguida como símbolo do nacionalismo brasileiro. 






A campanha abolicionista, em fins do século XIX, mobilizou vastos setores da sociedade brasileira. No entanto, passado o 13 de maio de 1888, os negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas que os integrassem socialmente. Por trás disso, havia um projeto de modernização conservadora que não tocou no regime do latifúndio e exacerbou o racismo como forma de discriminação.

“Uma pátria respeitada, não tanto pela grandeza do seu território como pela união dos seus filhos; não tanto pelas leis escritas, como pela convicção de honestidade e justiça do seu governo; não tanto pelas instituições deste ou daquele molde, como pela prova real de que essas instituições favorecem, ou, quando menos, não contrariam a liberdade e desenvolvimento da nação.”
Evaristo Ferreira da Veiga




Foi incansável crítico no que diz respeito ao processo de modernização do Brasil, ocorrido na virada do século XIX. Foi um inovador da literatura brasileira, com sua forma de escrever, e mesmo com os temas que aborda, uma vez que toda sua obra volta-se para uma crítica feroz à sociedade em geral, trazendo à tona o quotidiano do preconceito e marginalização social e racial.

A literatura produzida por Lima Barreto é fruto das condições sociais vigentes, dos conflitos; origina-se em meio às tensões sociais, nas quais estão impressas muitas realidades vividas, os sofrimentos, as alegrias. Lima Barreto, talvez por se sentir tão oprimido no seu quotidiano, via na literatura o espaço no qual podia se colocar por inteiro, não se preocupando com os padrões estéticos até então consagrados. Ele atribuía à literatura um poder muito especial, o poder de “comunicar umas almas com as outras”, ou seja, na literatura não havia espaço para meias verdades, para a hipocrisia; queria sim, desmascarar todas as contradições sociais, procurando traçar um perfil crítico do seu tempo.





Embora quase metade da população brasileira seja negra, poucos foram nossos escritores negros e mulatos. E, entre eles, poucos foram os que escreveram em favor da causa negra. Cruz e Souza, por exemplo, é acusado de ter-se omitido quanto a questões referentes à condição negra. Mesmo tendo sido filho de escravos e recebido a alcunha de “Cisne Negro”, o poeta João da Cruz e Souza não conseguiu escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não precede, pois, apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do Simbolismo nem de seu projeto particular, o autor, em alguns poemas, retratou metaforicamente a condição do escravo.





Prosa poética “Emparedado”, Cruz e Sousa

“[...]
Não! Não! Não! Não transportarás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedado de uma raça.

Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, numa derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo – horrível – parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto...”

Cruz e Sousa utiliza a metáfora do emparedamento para exorcizar a dor do Ser negro e a condição de “homem invisível”, vitimado por um sistema perverso.




Entre o racismo estrutural e a permanência do discurso da “democracia racial”, as populações negras brasileiras buscam construir formas de falar de si e do mundo.

Nas últimas duas décadas, verificou-se um aumento de visibilidade da representação negra na sociedade brasileira – seja nos meios de comunicação de massa, seja nas artes, na música e na literatura, seja no campo acadêmico – e o questionamento de seu caráter “marginal” diante das formas de expressão dominantes.

Luiza Lobo (1989) ao procurar conceituar o que seria literatura negra, levanta o dado étnico, que em sua definição é marca substancial. Pontua que a existência da literatura negra se dá a partir do momento em que o negro deixa de ser somente tema, deixa de ser objeto para uma literatura alheia e passa a criar a sua própria, assumindo o papel de sujeito. Para ela, essa mudança de posição, de papel, define o surgimento da literatura negra no Brasil.
e, muito mais do que um movimento literário, foi um ato político, uma afirmação de independência, um clamor por reconhecimento.

Zilá Bernd, (1988) indaga: “que fator será o determinante da fissura a partir da qual se pode falar em literatura negra e não apenas em temática da escravidão?”
E responde:
“que esse demarcador de fronteiras é o surgimento de um sujeito de enunciação no discurso poético, revelador de um processo de conscientização de ser negro entre brancos”.

Reafirmando que não é somente a cor da pele do escritor que vai definir, situar a sua texto como literatura negra, mas também a sua postura ideológica, a maneira como ele vai viver em si a condição e a aventura de ser um negro escritor, concordamos com Márcio Barbosa, (1985)13 quando o escritor do Quilombhoje diz que a “existência da literatura negra é posterior à existência de uma consciência negra”.




Negritude é orgulho - orgulho de ser negro em uma terra onde ainda prevalece o racismo.





Como todo movimento reivindicador, o chamado “Negritude” foi marcado por uma literatura que, muito mais do que um movimento literário, foi um ato político, uma afirmação de independência, um clamor por reconhecimento.

A palavra “negritude” aparece com certa frequência na obra de escritores brasileiros contemporâneos, bem como em trabalhos acadêmicos sobre história, cultura ou literatura negra no Brasil. Num outro nível, a palavra faz parte do vocabulário de atores, cantores e músicos negros, circulando igualmente de forma variada na imprensa e na mídia em geral, fenômeno que reforçou sua vulgarização no país, sobretudo a partir dos anos 1980.

A Negritude tem a sua origem nos movimentos culturais protagonizados por negros, brancos, mestiços que, desde as décadas de 10, 20, 30 (século XIX), vinham lutando por renascimento negro (busca e revalorização das raízes culturais africanas, crioulas e populares) principalmente em três países das Américas, Haiti, Cuba e Estados Unidos da América, mas também um pouco por todo o lado.

Negritude é um movimento reivindicativo criado por estudantes negros na década de 30 em Paris, sendo os principais responsáveis o martinicano Aimé Césaire, Léopold Sédar Sengor senegalês e o Leon Damas ganês. Os quais tiveram influências de membros do Renascimento de Harlem, Entre outros, reuniram-se os escritores Langston Hughes e Richard Wright e músico de jazz Duke Ellington e Sidney Bech. Também receberam influências do Iluminismo, pan-africanismo e uma pequena do marxismo.







A literatura negra é um imaginário que se forma, articula e transforma no curso do tempo. Não surge de um momento para outro, nem é autônoma desde o primeiro instante. Sua história está assinalada por autores, obras, temas, invenções literárias. 

É um imaginário que se articula aqui e ali, conforme o diálogo de autores, obras, temas e invenções literárias. 

A ideologia branca, ao longo da história, tentou enfraquecer a participação do negro na vida social, por isso o poeta busca um verbo forte (lincharam) para definir a violência contra este homem que figura em seu poema. A “boa aparência” cobra da pela época representava o oposto da negrura da pele, dos cabelos pixains, do nariz achatado... Diante desta questão de “aparência”, observa-se que, embora a cultura negra seja, hoje, visível, tolerada, respeitada e integrada nos símbolos constitutivos da cultura nacional, os homens e as mulheres negras, produtores dessa cultura são“invisibilizados”, “linchados”





A poesia de Solano Trindade é marcada por um forte sentimento de pertença a cultura africana. O poeta é negro, e se orgulha em demonstrar sua preferência pela temática negra em todos os aspectos. Elio Ferreira diz que“os versos de Solano traduzem o sentido das narrativas orais dos antigos ancestrais,que transmitiam suas experiências sociais e coletivas a comunidade tribal”. O autor afirma ainda que “negralização é um fenômeno evidenciado na cultura brasileira desde a chegada dos primeiros africanos escravizados, consubstanciando-se na obra poética de autores afrodescendentes como Solano Trindade.”

Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol

Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos...

“Canto dos palmares”, de Solano Trindade, evidencia o renascimento de um mundo negro pautado na resistência solidária, na memória histórica dos ancestrais e na “ação heroica” dos quilombolas.




Para Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a autora discorre sobre o momento em que passa fome. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. Para Audálio, o depoimento ganha ainda mais importância por ser real. Um escritor pode ficcionar isso, mas ela estava sentido, disse.

Na escrita, Carolina pode expressar a voz que era negada a quem vivesse em suas condições. Uma voz que, apesar de todas as dificuldades, preconceito e do insistente esquecimento que se estende até os dias de hoje, persiste como a base de uma obra autêntica e importante, mas, sobretudo, humana e verdadeira.

“Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa pensar nas miserias que nos rodeia. (…) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. (…) É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. 

Fiz o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como é horrível pisar na lama.

As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginarios.” (trecho de Quarto de Despejo, 1960)



Julio Romão cursou o primário no Grupo Escolar Demóstenes Avelino, ingressou na Escola dos Aprendizes Artífices de Teresina, onde foi diplomado em marcenaria (1936). Em 1937, mudou-se para o Rio de Janeiro e continuou seus estudos. Fez curso ginasial intensivo no Colégio Matos; Bacharelou-se em Filosofia pela extinta Universidade do Brasil.

Como jornalista e intelectual, colaborou em vários órgãos da imprensa periódica e diária carioca, notadamente em O Malho, Vamos Ler, Revista da Semana, Dom Casmurro, Diário Carioca, Jornal do Comércio, de que foi revisor, e no Correio da Manhã, onde, começando também pela revisão, em 1951, trabalhou pelo espaço de dez anos, destacando-se como repórter político e redator responsável pelo Suplemento Econômico.

Com uma vida intelectual ligada à luta do Movimento Negro no Brasil, Júlio Romão possui obras nas áreas de Poesia, Teatro, História, Linguística, Geografia, Jornalismo e Biografias.
Júlio Romão – Essa questão hoje é de ordem social. Antigamente, o negro não tinha espaço na televisão, a não ser como escravo ou nas cozinhas, não era o artista principal, era um troço qualquer. Jorge Amado certa vez me disse: “Romão, depois da abolição todo branco pobre é negro”. Ele estava certo, porque hoje o problema é de ordem social e quanto menos se tem, menos se vale.

Júlio Romão – Meus livros tiveram visibilidade. Sempre fui perseguido pela polícia por escrever com muita tática. Portanto, aproveitei as palavras de Cristo para xingar os militares e fui interrogado por isso. Usei o salmo como poesia para criticar o que acontecia na ditadura, num período que ocorria a hegemonia entre Rio e São Paulo.





Cadernos Negros são coletâneas anuais publicadas pelo grupo Quilombhoje Literatura. Surgiu em São Paulo em 1978 no CECAN – Centro de Cultura e Arte Negra, espaço onde jovens se reuniam e participavam de discussões políticas. As coletâneas reúnem diversos autores, de diferentes cidades do Brasil, que financiam a publicação da coletânea. A cada ano a coletânea prioriza um gênero textual: contos, poesias. (FLORENTINA e LIMA, 2006). 






Embora não tenha muito espaço nas grandes editoras e nos grandes eventos literários, existe literatura de boa qualidade escrita por negros e negras no Brasil. É importante haver essa literatura no país, pois sua grande maioria tem como foco a representatividade, isto é, uma literatura que retrata e explicita o cotidiano, os impasses e os problemas sociais e históricos vivenciados pelas pessoas negras do país.

Saber quem são e o que pensam a respeito de seu ofício os escritores afro-descendentes é importante não só para aqueles que se interessam por literatura, mas para todos os que se voltam para as discussões mais amplas que envolvem nossa identidade enquanto povo.



Passado Histórico
Do açoite
da mulata erótica
da negra boa de eito
e de cama
(nenhum registro)
(FÁTIMA, 1998, p. 67)

Em diálogo com o poema “Passado histórico”, há o poema “Ressurgir das cinzas”, de Esmeralda Ribeiro, no qual são citadas algumas das mulheres negras importantes tanto para a memória coletiva afro-brasileira como para a história do Brasil,

Ressurgir das cinzas
Sou forte, sou guerreira,
Tenho nas veias sangue de ancestrais.
Levo a vida num ritmo de poema-canção,
Mesmo que haja versos assimétricos,
Mesmo que rabisquem, às vezes,
A poesia do meu ser,
Mesmo assim, tenho este mantra em meu coração:

A voz enunciativa desse poema, como está explícito no adjetivo “guerreira”, é um sujeito feminino negro. Na primeira estrofe, o sujeito ficcional descreve-se como guerreira e como herança de seus ancestrais, para em seguida comparar sua vida a uma poesia:
Levo a vida num ritmo de poema-canção,
Mesmo que haja versos assimétricos,
Mesmo que rabisquem, às vezes,
A poesia do meu ser...





A escritora brasileira Conceição Evaristo foi criada em uma favela da zona sul de Belo Horizonte. Em sua vida teve de conciliar os estudos com a vida de empregada doméstica, formando-se somente aos 25 anos. No Rio de Janeiro, passou em um concurso público para o magistério e estudou Letras (UFRJ). É mestra em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e doutora em Literatura Comparada (UFF). Atualmente, leciona na UFMG como professora visitante. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na antologia Cadernos Negros. Suas obras abordam tanto a questão da discriminação racial quanto as questões de gênero e de classe. Publicou o romance Ponciá Vicêncio (2003), traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007; Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).

Vozes-Mulheres

A voz da minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

....
O poema “Vozes-Mulheres”, de Conceição Evaristo, evidencia o modo como um sujeito lírico, que se identifica como um sujeito feminino negro, via a história da luta contra a escravidão ao longo das diversas gerações.




As armas e a poesia de Miriam Alves, escritora que há 30 anos produz literatura negra do Brasil para o mundo.                             

E ao olhar-me no espelho vi a mulher nua tranquila e me veio a mente uma frase de Nelson Rodrigues: “Toda nudez será castigada.” E a mulher nua sorriu; “Não toda nudez é exuziaca ”.

Miriam Alves é Pesquisadora de literatura negra. Foi integrante do Quilombhoje Literatura, no período de 1980 a 1989. Em 1995 esteve, como palestrante, em Viena/Áustria, apresentando o trabalho Resgate - texto poético performático. Participou da "1996 International Conference of Caribbean Women Writers and Scholars", em março de 1997 esteve no "Latin American Speaker Simposium" em Nova York, onde falou sobre o tema A Invisibilidade da Literatura Afro-feminina: de Carolina de Jesus a Nós, e em 2000 participou do encontro da "APSA - American Portuguese Studies Association". Organizou e co-editou o livro Finally Us, coletânea bilíngüe de poemas (inglês/português).

As escritoras afro-brasileiras dos Cadernos Negros têm contribuído para a visibilidade de temas relacionados aos afro-brasileiros. Os poemas algumas vezes possuem um sujeito lírico que se identifica como feminino, outras vezes não.

E em outras ainda, nos são fornecidos elementos que permitem identificar a voz enunciativa como um ser mulher e como um sujeito negro. E, assim, a partir do ponto de vista de escritoras afro-brasileiras, é tematizada a memória, seja ela referente a um indivíduo ou a um coletivo.

Dessa forma, a produção poética das afro-brasileiras constrói a memória dos afrodescendentes brasileiros, trazendo à tona os importantes papéis  desempenhados pelas mulheres negras ao longo  da luta pela liberdade ontem e hoje.




Os negros são grande maioria de nossa população; entretanto, eles não têm ainda a maioria das oportunidades. Se observarmos os bancos das faculdades perceberemos o reduzido número de negros. Na Igreja isso não é diferente, são poucos os que assumem a radicalidade do sacerdócio, num passado não muito distante, para ser padre na Igreja católica era preciso “ter boa aparência” e até hoje precisam conviver com o preconceito e a discriminação em relação às religiões de matriz africana.

Estudo do Ipea intitulado “Retrato das Desigualdades de gênero e raça”, aponta que no Brasil “os negros são grande maioria entre os mais pobres, estão nas posições mais precárias do mercado de trabalho e possuem os menores índices de educação”. 69% dos domicílios que recebem Bolsa Família, 60% dos que recebem Benefício de Prestação Continuada e 68% dos que participam do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil são chefiados por negros.

Na verdade, os países hoje chamados desenvolvidos, descobriram que para uma nação ser considerada como tal, precisa diminuir as diferenças sociais. Nesse sentido, a adoção de cotas raciais não é uma invenção brasileira, países como os EUA e a África do Sul aumentaram as chances de os negros entrarem no ensino superior dessa forma. Foi no ano 2000 que as cotas começaram a ser implementadas por aqui. Essa pode ser uma alternativa temporária na expectativa de que o ensino público brasileiro forme alunos capazes de disputar as vagas de igual por igual com estudantes das escolas particulares.









CULTURA INDÍGENA E REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO 
NA LITERATURA BRASILEIRA





OS INDÍGENAS BRASILEIROS E SUA CULTURA


A cultura indígena é um conjunto de características que marca um determinado grupo indígena.

Os indígenas são uma fonte de conhecimento. Suas experiências passadas entre gerações formou o que nós chamamos de cultura brasileira: diversificada, heterogênea e peculiar.

A força da cultura de negros/as e indígenas pode ser vista em todos os momentos cotidianos da vida. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar, celebrar e brincar, estão inscritas as marcas civilizatórias desses povos que, ancorados na dimensão do sagrado, celebram e respeitam a vida e a morte, mantendo uma relação ética com a natureza.

Os habitantes nativos, que eram muito numerosos, viviam divididos em tribos, que se espalhavam por todo o território que hoje constitui a nação brasileira, tanto no litoral como no interior. Esses povos foram chamados  de “índios” pelos portugueses, pois, inicialmente, pensavam ter chegado às terras orientais denominadas “Indias”.

Os índios, embora vivessem nas matas e florestas não eram desprovidos de cultura. Possuíam uma organização social e política, divisão de trabalho, usos, costumes, tradições e religião, que apresentavam variações entre as diferentes tribos.

A Língua, talvez o maior patrimônio cultural de um povo, também, variava muito, contudo, podemos distinguir os principais troncos-linguísticos, a que se vinculavam as numerosas tribos. São estes: os tupi-guaranis (habitantes do litoral); macro-jês ou tapuias (habitantes do Planalto Central); aruaques e caraíbas (habitantes da Amazônia).

Apesar de os colonizadores terem implantado, de forma obrigatória, a língua portuguesa como idioma nacional, o Português do Brasil assimilou muitas palavras das línguas indígenas.

O povo brasileiro herdou muitos costumes indígenas, como o de usar redes para dormir ou repousar, tal qual fazem os índios em suas redes de palha, no interior de suas habitações, à qual dão o nome de ocas.

Da mesma forma, a culinária nacional agregou muitas iguarias inventadas pelos índios, como é o caso do beiju ou tapioca, feito com a farinha de mandioca, que também é utilizada no preparo da paçoca, hoje, um famoso prato da culinária nordestina, que se faz socando a farinha e mandioca com carne seca num pilão de madeira. 



A mandioca é também ingrediente indispensável na preparação do pato no tucupi, prato tradicional da cozinha paraense. A culinária do norte brasileiro, de modo geral, à base de peixe seco, constitui, sem dúvida, herança de nossos índios.



Mistura de Crença


As crenças e rituais religiosos variavam de acordo com a nação indígena, mas, de modo geral, acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Havia algumas tribos indígenas que enterravam os corpos dos mortos em grandes vasos de cerâmicas, onde depositavam também seus objetos pessoais, o que demonstra a crença na existência de vida após a morte. A cerimônia do Kuarup, ainda hoje praticada por índios do Alto Xingu é um atestado de que essas tribos cultivam a espiritualidade através de rituais em que reverenciam àqueles que já se foram, dando a eles o último adeus e encerrando o período de luto.


A palavra religião é originária do termo latino “religare”, significa a religação entre o homem e um ser divino. As referências sobre a religião dos índios brasileiros estão ligadas aos mitos de cada povo porque os próprios indígenas não usavam a palavra religião.

As crenças religiosas e superstições tinham um importante papel dentro da cultura indígena. Fetichistas, os indígenas temiam ao mesmo tempo um bom Deus – Tupã – e um espírito maligno, tenebroso, vingativo – Anhangá, ao sul e Jurupari, ao norte. Algumas tribos pareciam evoluir para a astrolatria, embora não possuíssem templos, e adoravam o Sol (Guaraci – mãe dos viventes) e a Lua (Jaci – nossa mãe).


Traços indígenas, seus deuses e rituais



Eles tinham um conceito diferente do que era se religar a alguma coisa. Na verdade, para os indígenas há uma ligação com a natureza e dela com Deus.

Os mitos seriam histórias com verdades consideradas fundamentais para determinado povo ou grupo que vão caracterizá-las pela importância que eles contém. Também pode ser definido de acordo com o nível de linguagem de um indivíduo ou a forma dele se expressar e contar suas narrativas para o povo. Este, pode fazer desenhos na areia, realizar atos de performance, dançar, cantar, gesticular, tudo isso para melhor visualizar a história.

A dança é uma das mais fortes expressões da nossa cultura.  Elas aparecem em cerimônias tradicionais importantes, como as festas de iniciação, e em eventos mais comuns, como nas festas de comemorações ao dia dos professores ou dia das mães, por exemplo. Também dançamos durante os dabucuris, que são festas onde um grupo oferece a outro grande quantidade de frutas, peixe, ou caça. E para deixar as festas animadas, a grande maioria dos nossos povos consome caxiri (bebida fermentada), ipadú e tabaco.  Nas vésperas das festas, fazemos pinturas corporais com jenipapo e carajuru.




Nesse universo de 23 culturas, temos muitas semelhanças de danças entre nós, porém cada grupo possui sua versão. Por exemplo, na região do rio Uaupés praticamente todos os grupos dançam cariço, kapiwaya e japurutu. Mas cada grupo tem seus próprios cantos e danças,  melodias e histórias. Há danças que são muito específicas de cada povo. Por exemplo, as danças dos índios Yanomami. Após consumir o paricá, eles incorporam seres da floresta e dançam imitando os sons e a forma de locomoção de animais, como onça, macaco etc


Os povos indígenas deixaram para a sociedade brasileira uma diversidade cultural que foi importante para a formação da população brasileira, tais como: dormir de redeandar descalçoscrença nas forças da natureza, e nos espíritos dos antepassados, nas lendas. Além da influência indígena na culinária brasileira, herdamos também a crença nas práticas populares de cura derivadas das plantas.






 O Índio na Literatura Contemporânea


“A terra não pertence ao homem. O homem à terra pertence. Não foi o homem que teceu a trama da vida. Ao contrário, foi por ela tecido”. (Chefe Seatle)



E a problemática da literatura de autoria indígena se amplia ao observar-se a questão da autoria. Enquanto a Teoria Literária discute a morte do autor, uma característica recorrente na escrita indígena é a autoria coletiva: o autor individual dá lugar a formas-sujeito, segundo Almeida (ALMEIDA & QUEIRÓS, 2004), que agem como porta-vozes de toda a comunidade. Percebe-se claramente que a tradição literária precisa de ajustes teóricos para comportar também a produção textual de autoria indígena



Falar, hoje, em povos indígenas no Brasil significa reconhecer, 
basicamente, seis coisas:


1- Nestas terras colonizadas por portugueses, onde viria a se formar um país chamado Brasil, já havia populações humanas que ocupavam territórios específicos;

2- Não sabemos exatamente de onde vieram; dizemos que são "originárias" ou "nativas" porque estavam por aqui antes da ocupação europeia;

3- Os índios que estão hoje no Brasil têm uma longa história, que começou a se diferenciar daquela da civilização ocidental ainda na chamada "pré-história" (com fluxos migratórios do "Velho Mundo" para a América ocorridos há dezenas de milhares de anos); a história "deles" voltou a se aproximar da "nossa" há cerca de, apenas, 500 anos (com a chegada dos portugueses);:

4- Como todo grupo humano, os povos indígenas têm culturas que resultam da história de relações que se dão entre os próprios homens e entre estes e o meio ambiente; uma história que, no seu caso, foi (e continua sendo) drasticamente alterada pela realidade da colonização;

5- Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no território brasileiro estão historicamente vinculados a esses primeiros povos;

6- A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no Brasil do que do Brasil.




Embora o censo indígena não seja considerado oficialmente, somos mais de 315.180 indivíduos sobrevivendo nos grandes centros urbanos. Viver na cidade grande não nos faz menos indígenas; mas a nossa condição de indígenas urbanos a Funai não vê e uma das provas da sua cegueira é não reconhecer a nossa existência nos Estados do Rio Grande do Norte (com 394 indígenas autodeclarados), Piauí (com 314 indígenas autodeclarados) e no Distrito Federal (não informado).

Nós existimos; só não enxerga mesmo quem não quer ver. Para a Funai, os indígenas urbanos sequer estão inseridos no quadro de indígenas aptos a ser considerados indivíduos razoavelmente integrados à sociedade.