LITERATURA
E CULTURA AFRO-
BRASILEIRA E INDÍGENA
BRASILEIRA E INDÍGENA
Literatura afro-brasileira – um conceito em construção, processo e devir. Além de segmento ou linhagem, é componente de amplo encadeamento discursivo. Ao mesmo tempo dentro e fora da literatura brasileira. Constitui-se a partir de textos que apresentam temas, autores, linguagens mas, sobretudo, um ponto de vista culturalmente identificado à afrodescendência, como fim e começo. Sua presença implica redirecionamentos recepcionais e suplementos de sentido à história literária canônica.
A
existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos anos, além de ter
constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou
também sua formação cultural. A miscigenação entre africanos, indígenas e
europeus é a base da formação populacional do Brasil. Dessa forma, a matriz
africana da sociedade tem uma influência cultural que vai além do vocabulário.
A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da África durante o longo período em que durou o tráfico negreiro transatlântico. A diversidade cultural da África refletiu-se na diversidade dos escravos, pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas diferentes e trouxeram tradições distintas. Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Assim como a indígena, a cultura africana foi geralmente suprimida pelos colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português, eram batizados com nomes portugueses e obrigados a se converter ao catolicismo.
Os africanos contribuíram para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dança, música, religião, culinária e idioma. Essa influência se faz notar em grande parte do país; em certos estados como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul a cultura afro-brasileira é particularmente destacada em virtude da migração dos escravos.
Religiosidade
Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território. Largamente distribuída também é a umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a associação de santos católicos com os orixás.
Candomblé
Candomblé é uma palavra africana que significa dança. Propriamente, é uma dança religiosa na qual se reza para os orixás. Esta dança é uma invocação feita em roda e praticada por mulheres chamadas de sambas, daí o nome tão comum em nosso Brasil a roda de samba.
Todos
os seguidores das religiões afro-brasileiras têm seu orixá. Acreditam que todos
os seres humanos nascem da Natureza, em um determinado dia, lugar e hora sob o
comando de um orixá que será seu protetor por toda a vida. No Candomblé, o
orixá é uma força da criação divina, manifestação de Olorum, o criador de tudo
(Deus).
Culinária
A influência da cultura africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia, onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé.
Musicalidade
Há também alguns instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o afoxé e o agogô,
que são de origem africana. O berimbau é o instrumento utilizado para criar o
ritmo que acompanha os passos da capoeira, mistura de dança e arte marcial
criada pelos escravos no Brasil colônial.
Capoeira
A
capoeira, mistura de dança, luta e música, surgiu com os negros, que a
utilizavam como arma de defesa. Durante a escravidão, reuniam-se em roda, após
o trabalho, para cantar, dançar, jogar capoeira ou reverenciar com música os
seus orixás.
Os
bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião
afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o
território. Largamente distribuída também é a umbanda, uma religião sincrética
que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a
associação de santos católicos com os orixás.
A
influência da cultura africana é também evidente na culinária regional,
especialmente na Bahia, onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira
africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é utilizado em vários
pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé.
O
samba, afoxé, maracatu, congada, lundu e a capoeira são exemplos da influência
africana na música brasileira que permanecem até os dias atuais. A música
popular urbana no Brasil Imperial teve nos escravos que trabalhavam como
barbeiros em Salvador e Rio de Janeiro uma de suas mais ricas expressões.
Instrumentos como o tambor, atabaque, cuíca, alguns tipos de flauta, marimba e
o berimbau também são heranças africanas que constituem parte da cultura
brasileira. Cantos, como o jongo, ou danças, como a umbigada, são também
elementos culturais provenientes dos africanos.
Historiadores como João José Reis chegam a afirmar que essa cultura da diáspora negra, essa cultura dos africanos saídos do continente, caracterizada pelo otimismo, pela coragem, musicalidade e ousadia estética e política, foi incomparável no contexto da chamada Civilização Ocidental. Como não foi fácil a vida em terras americanas, precisando lutar para sobreviver, a criação cultural “com a expressão de liberdade que a cultura negra possui” foi “um lutar dobrado” para imprimir na cultura brasileira sua influência.
Precursores da Literatura Afro-Brasileira
A Literatura Afro-brasileira escrita nesse sistema é simultaneamente Literatura Brasileira que expressa uma visão de mundo específica dos afro-brasileiros. A dinâmica de tensões e contradições presentes nesse quadro literário nos ajuda a compreender as atitudes dos autores que recusam ou que valorizam suas origens étnicas; nos esclarece também sobre a necessidade de denunciar a opressão social e de evidenciar uma nova sensibilidade que apreenda esteticamente o universo da cultura afrobrasileira.
A referência a autores afro-brasileiros se inicia com o poeta e músico mestiço DOMINGOS CALDAS BARBOSA (1738-1800). Caldas Barbosa filiou-se ao Arcadismo, escola literária que seguiu os modelos da antiguidade clássica. O poeta inseriu na poesia árcade recursos da "fala brasileira", com aspectos do vocabulário mestiço da colônia. Escreveu modinhas, lundus e seus poemas foram preparados para serem cantados. Radicou-se em Lisboa, onde pertenceu à Nova Arcádia Lusitana. Obras: Epitalâmio (1777), Viola de Lereno (1798).
Em 11 de outubro de 1825 - Nasceu em São Luis do MA, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra autodidata, que em 1859, lançou o romance Úrsula. Maria Firmina faleceu em 11/11/1917.
Em 1880, fundou a primeira escola
mista e gratuita do Maranhão, o que causou grande alvoroço. Nunca se casou, e
faleceu em 1917, aos 92 anos. Sua importância na história da literatura
brasileira só foi devidamente reconhecida a partir dos anos 70 – até então, não
passava de um nome em uma nota de rodapé.
Ao
escrever Úrsula, Maria Firmina assinou como “Uma Maranhense” – pseudônimo que se justifica nas limitações,
nos preconceitos a que as mulheres eram submetidas e ainda no tratamento
absolutamente inovador que a autora dá ao tema da escravidão no contexto do
patriarcado brasileiro.
O romance trata de uma
trágica história de amor entre dois jovens: a pura e simples Úrsula e o nobre
bacharel Tancredo, e, aparentemente, é uma clássica história de amor impossível
com final trágico. Maria Firmina dos Reis Ursula Obras A obra Úrsula, de Maria
Firmina dos Reis, foi publicada em 1859.
Foi a primeira mulher
brasileira a ter um romance publicado. O livro é considerado pela maioria dos
historiadores o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, e
também, o primeiro romance da literatura afrobrasileira, isto é, uma obra
produzida por uma autora afrodescendente. Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917),
escritora e educadora, nasceu na ilha de São Luís, capital
Maria Firmina foi aquela que não se deixou intimidar, que recusou-se à condição feminina de mera subserviência, que não desistiu de suas aspirações mas, superando suas limitações espaciotemporais, foi além, usando a sua escritura como arma de combate, demonstrando que a mulher é, sim, capaz de atuar produtivamente numa sociedade, sem ter que viver na subserviência, subestimada em sua inteligência e competência.
Senhor Deus! quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama
a teu próximo como a ti mesmo – e deixará de oprimir com tão repreensível
injustiça ao seu semelhante!... a aquele que também era livre no seu país...
aquele que é seu irmão?!
E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista.” ( Trecho que retrata a escravidão )
E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista.” ( Trecho que retrata a escravidão )
LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA (1830-1882),
filho de negra africana e de português. Foi vendido pelo pai aos dez anos de
idade. Libertou-se, estudou, tornou-se advogado, orador e jornalista. Abraçou a
causa do abolicionismo e sua obra poética reflete o empenho em defender suas
origens étnicas. Usou a sátira para criticar a sociedade brasileira mestiça que
pretendia fazer-se europeia. Na poesia, Luiz Gama rompeu os padrões de beleza
da mulher branca e de atenuação da Cor através da imagem da mulher morena. O
poeta cantou liricamente o amor pela mulher negra, ressaltando sua
sensibilidade.
ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (1823-1864), filho de escrava mestiça de índio e negro. Sua obra considerada de maior relevância se situa no campo do indianismo, com poemas de significativa força lírica e épica. O tratamento do tema do negro se dilui em sua poesia, principalmente quando a imagem heroicizada do índio é erguida como símbolo do nacionalismo brasileiro.
A campanha abolicionista, em fins do século XIX, mobilizou
vastos setores da sociedade brasileira. No entanto, passado o 13 de maio de
1888, os negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas
que os integrassem socialmente. Por trás disso, havia um projeto de
modernização conservadora que não tocou no regime do latifúndio e exacerbou o
racismo como forma de discriminação.
“Uma pátria respeitada, não tanto pela grandeza do seu território como pela união dos seus filhos; não tanto pelas leis escritas, como pela convicção de honestidade e justiça do seu governo; não tanto pelas instituições deste ou daquele molde, como pela prova real de que essas instituições favorecem, ou, quando menos, não contrariam a liberdade e desenvolvimento da nação.”
Evaristo Ferreira da Veiga
Foi incansável crítico no que diz respeito ao processo de modernização do Brasil, ocorrido na virada do século XIX. Foi um inovador da literatura brasileira, com sua forma de escrever, e mesmo com os temas que aborda, uma vez que toda sua obra volta-se para uma crítica feroz à sociedade em geral, trazendo à tona o quotidiano do preconceito e marginalização social e racial.
A literatura produzida por Lima Barreto é fruto das condições sociais vigentes, dos conflitos; origina-se em meio às tensões sociais, nas quais estão impressas muitas realidades vividas, os sofrimentos, as alegrias. Lima Barreto, talvez por se sentir tão oprimido no seu quotidiano, via na literatura o espaço no qual podia se colocar por inteiro, não se preocupando com os padrões estéticos até então consagrados. Ele atribuía à literatura um poder muito especial, o poder de “comunicar umas almas com as outras”, ou seja, na literatura não havia espaço para meias verdades, para a hipocrisia; queria sim, desmascarar todas as contradições sociais, procurando traçar um perfil crítico do seu tempo.
Embora quase metade da população brasileira seja negra, poucos foram nossos escritores negros e mulatos. E, entre eles, poucos foram os que escreveram em favor da causa negra. Cruz e Souza, por exemplo, é acusado de ter-se omitido quanto a questões referentes à condição negra. Mesmo tendo sido filho de escravos e recebido a alcunha de “Cisne Negro”, o poeta João da Cruz e Souza não conseguiu escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não precede, pois, apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do Simbolismo nem de seu projeto particular, o autor, em alguns poemas, retratou metaforicamente a condição do escravo.
Prosa poética “Emparedado”,
Cruz e Sousa
“[...]
Não! Não! Não! Não
transportarás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás
de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando
pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro
emparedado de uma raça.
Se caminhares para a direita
baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável
de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de
Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente
no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos
e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! Se
caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, numa derradeira parede, fechando tudo,
fechando tudo – horrível – parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num
frio espasmo de terror absoluto...”
Cruz e Sousa utiliza a
metáfora do emparedamento para exorcizar a dor do Ser negro e a condição de
“homem invisível”, vitimado por um sistema perverso.
Entre
o racismo estrutural e a permanência do discurso da “democracia racial”, as
populações negras brasileiras buscam construir formas de falar de si e do
mundo.
Luiza Lobo (1989) ao procurar conceituar o que seria literatura negra, levanta o dado étnico, que em sua definição é marca substancial. Pontua que a existência da literatura negra se dá a partir do momento em que o negro deixa de ser somente tema, deixa de ser objeto para uma literatura alheia e passa a criar a sua própria, assumindo o papel de sujeito. Para ela, essa mudança de posição, de papel, define o surgimento da literatura negra no Brasil.
e, muito mais do que um movimento literário,
foi um ato político, uma afirmação de independência, um clamor por
reconhecimento.
Zilá Bernd, (1988)
indaga: “que fator será o determinante da fissura a partir da qual se pode
falar em literatura negra e não apenas em temática da escravidão?”
E
responde:
“que
esse demarcador de fronteiras é o surgimento de um sujeito de enunciação no
discurso poético, revelador de um processo de conscientização de ser negro
entre brancos”.
Reafirmando que não é somente a cor da pele do escritor que vai definir, situar a sua texto como literatura negra, mas também a sua postura ideológica, a maneira como ele vai viver em si a condição e a aventura de ser um negro escritor, concordamos com Márcio Barbosa, (1985)13 quando o escritor do Quilombhoje diz que a “existência da literatura negra é posterior à existência de uma consciência negra”.
Reafirmando que não é somente a cor da pele do escritor que vai definir, situar a sua texto como literatura negra, mas também a sua postura ideológica, a maneira como ele vai viver em si a condição e a aventura de ser um negro escritor, concordamos com Márcio Barbosa, (1985)13 quando o escritor do Quilombhoje diz que a “existência da literatura negra é posterior à existência de uma consciência negra”.
Negritude é
orgulho - orgulho de ser negro em uma terra onde ainda prevalece o racismo.
Como todo movimento reivindicador, o chamado “Negritude” foi marcado por uma literatura que, muito mais do que um movimento literário, foi um ato político, uma afirmação de independência, um clamor por reconhecimento.
A
palavra “negritude” aparece com
certa frequência na obra de escritores brasileiros contemporâneos, bem como em
trabalhos acadêmicos sobre história, cultura ou literatura negra no Brasil. Num
outro nível, a palavra faz parte do vocabulário de atores, cantores e músicos
negros, circulando igualmente de forma variada na imprensa e na mídia em geral,
fenômeno que reforçou sua vulgarização no país, sobretudo a partir dos anos
1980.
A
Negritude tem a sua origem nos movimentos culturais protagonizados por negros,
brancos, mestiços que, desde as décadas de 10, 20, 30 (século XIX), vinham
lutando por renascimento negro (busca e revalorização das raízes culturais
africanas, crioulas e populares) principalmente em três países das Américas,
Haiti, Cuba e Estados Unidos da América, mas também um pouco por todo o lado.
Negritude
é um movimento reivindicativo criado por estudantes negros na década de 30 em
Paris, sendo os principais responsáveis o martinicano Aimé Césaire, Léopold
Sédar Sengor senegalês e o Leon Damas ganês. Os quais tiveram influências de
membros do Renascimento de Harlem, Entre outros, reuniram-se os escritores
Langston Hughes e Richard Wright e músico de jazz Duke Ellington e Sidney Bech.
Também receberam influências do Iluminismo, pan-africanismo e uma pequena do
marxismo.
A literatura negra é um imaginário que se forma, articula e transforma no curso do tempo. Não surge de um momento para outro, nem é autônoma desde o primeiro instante. Sua história está assinalada por autores, obras, temas, invenções literárias.
É um
imaginário que se articula aqui e ali, conforme o diálogo de autores, obras,
temas e invenções literárias.
A
ideologia branca, ao longo da história, tentou enfraquecer a participação do
negro na vida social, por isso o poeta busca um verbo forte (lincharam) para
definir a violência contra este homem que figura em seu poema. A “boa aparência”
cobra da pela época representava o oposto da negrura da pele, dos cabelos
pixains, do nariz achatado... Diante desta questão de “aparência”, observa-se
que, embora a cultura negra seja, hoje, visível, tolerada, respeitada e
integrada nos símbolos constitutivos da cultura nacional, os homens e as
mulheres negras, produtores dessa cultura são“invisibilizados”, “linchados”
A poesia de Solano Trindade é marcada por um forte sentimento de pertença a cultura africana. O poeta é negro, e se orgulha em demonstrar sua preferência pela temática negra em todos os aspectos. Elio Ferreira diz que“os versos de Solano traduzem o sentido das narrativas orais dos antigos ancestrais,que transmitiam suas experiências sociais e coletivas a comunidade tribal”. O autor afirma ainda que “negralização é um fenômeno evidenciado na cultura brasileira desde a chegada dos primeiros africanos escravizados, consubstanciando-se na obra poética de autores afrodescendentes como Solano Trindade.”
Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol
Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos...
“Canto dos
palmares”, de Solano Trindade, evidencia o renascimento de um mundo negro
pautado na resistência solidária, na memória histórica dos ancestrais e na
“ação heroica” dos quilombolas.
Para
Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência
positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a
autora discorre sobre o momento em que passa fome. Que efeito surpreendente faz
a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as
aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. Para
Audálio, o depoimento ganha ainda mais importância por ser real. Um escritor
pode ficcionar isso, mas ela estava sentido, disse.
Na escrita, Carolina pode expressar a voz que era negada a quem vivesse em suas condições. Uma voz que, apesar de todas as dificuldades, preconceito e do insistente esquecimento que se estende até os dias de hoje, persiste como a base de uma obra autêntica e importante, mas, sobretudo, humana e verdadeira.
Na escrita, Carolina pode expressar a voz que era negada a quem vivesse em suas condições. Uma voz que, apesar de todas as dificuldades, preconceito e do insistente esquecimento que se estende até os dias de hoje, persiste como a base de uma obra autêntica e importante, mas, sobretudo, humana e verdadeira.
“Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o
sono começa pensar nas miserias que nos rodeia. (…) Deixei o leito para
escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que
reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que
a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as
qualidades. (…) É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que
estou na favela.
Fiz
o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como
é horrível pisar na lama.
As horas que sou feliz é quando estou
residindo nos castelos imaginarios.” (trecho de Quarto de Despejo, 1960)
Como jornalista e intelectual, colaborou em
vários órgãos da imprensa periódica e diária carioca, notadamente em O Malho,
Vamos Ler, Revista da Semana, Dom Casmurro, Diário Carioca, Jornal do Comércio,
de que foi revisor, e no Correio da Manhã, onde, começando também pela revisão,
em 1951, trabalhou pelo espaço de dez anos, destacando-se como repórter
político e redator responsável pelo Suplemento Econômico.
Com
uma vida intelectual ligada à luta do Movimento Negro no Brasil, Júlio Romão
possui obras nas áreas de Poesia, Teatro, História, Linguística, Geografia,
Jornalismo e Biografias.
Júlio
Romão – Essa questão hoje é de ordem social. Antigamente, o negro não tinha
espaço na televisão, a não ser como escravo ou nas cozinhas, não era o artista
principal, era um troço qualquer. Jorge Amado certa vez me disse: “Romão, depois
da abolição todo branco pobre é negro”. Ele estava certo, porque hoje o
problema é de ordem social e quanto menos se tem, menos se vale.
Júlio Romão – Meus livros
tiveram visibilidade. Sempre fui perseguido pela polícia por escrever com muita
tática. Portanto, aproveitei as palavras de Cristo para xingar os militares e
fui interrogado por isso. Usei o salmo como poesia para criticar o que acontecia
na ditadura, num período que ocorria a hegemonia entre Rio e São Paulo.
Cadernos Negros são coletâneas anuais publicadas pelo grupo Quilombhoje Literatura. Surgiu em São Paulo em 1978 no CECAN – Centro de Cultura e Arte Negra, espaço onde jovens se reuniam e participavam de discussões políticas. As coletâneas reúnem diversos autores, de diferentes cidades do Brasil, que financiam a publicação da coletânea. A cada ano a coletânea prioriza um gênero textual: contos, poesias. (FLORENTINA e LIMA, 2006).
Embora
não tenha muito espaço nas grandes editoras e nos grandes eventos literários,
existe literatura de boa qualidade escrita por negros e negras no Brasil. É
importante haver essa literatura no país, pois sua grande maioria tem como foco
a representatividade, isto é, uma literatura que retrata e explicita o
cotidiano, os impasses e os problemas sociais e históricos vivenciados pelas
pessoas negras do país.
Saber
quem são e o que pensam a respeito de seu ofício os escritores
afro-descendentes é importante não só para aqueles que se interessam por
literatura, mas para todos os que se voltam para as discussões mais amplas que
envolvem nossa identidade enquanto povo.
Passado
Histórico
Do
açoite
da
mulata erótica
da
negra boa de eito
e
de cama
(nenhum
registro)
(FÁTIMA,
1998, p. 67)
Em diálogo com o poema “Passado histórico”,
há o poema “Ressurgir das cinzas”, de Esmeralda Ribeiro, no qual são
citadas algumas das mulheres negras importantes tanto para a memória
coletiva afro-brasileira como para a história do Brasil,
Ressurgir
das cinzas
Sou
forte, sou guerreira,
Tenho
nas veias sangue de ancestrais.
Levo
a vida num ritmo de poema-canção,
Mesmo
que haja versos assimétricos,
Mesmo
que rabisquem, às vezes,
A
poesia do meu ser,
Mesmo
assim, tenho este mantra em meu coração:
A
voz enunciativa desse poema, como está explícito no adjetivo “guerreira”, é um
sujeito feminino negro. Na primeira estrofe, o sujeito ficcional descreve-se
como guerreira e como herança de seus ancestrais, para em seguida comparar sua
vida a uma poesia:
Levo a
vida num ritmo de poema-canção,
Mesmo
que haja versos assimétricos,
Mesmo
que rabisquem, às vezes,
A
poesia do meu ser...
A escritora brasileira Conceição Evaristo foi criada em uma favela da zona sul de Belo Horizonte. Em sua vida teve de conciliar os estudos com a vida de empregada doméstica, formando-se somente aos 25 anos. No Rio de Janeiro, passou em um concurso público para o magistério e estudou Letras (UFRJ). É mestra em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e doutora em Literatura Comparada (UFF). Atualmente, leciona na UFMG como professora visitante. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na antologia Cadernos Negros. Suas obras abordam tanto a questão da discriminação racial quanto as questões de gênero e de classe. Publicou o romance Ponciá Vicêncio (2003), traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007; Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).
Vozes-Mulheres
A
voz da minha bisavó ecoou
criança
nos
porões do navio.
Ecoou
lamentos
de
uma infância perdida.
A
voz de minha avó
ecoou
obediência
aos
brancos-donos de tudo.
A
voz de minha mãe
ecoou
baixinho revolta
no
fundo das cozinhas alheias
debaixo
das trouxas
roupagens
sujas dos brancos
pelo
caminho empoeirado
rumo
à favela.
A
minha voz ainda
ecoa
versos perplexos
com
rimas de sangue
e
fome.
....
O poema “Vozes-Mulheres”, de Conceição
Evaristo, evidencia o modo como um sujeito lírico, que se identifica como um
sujeito feminino negro, via a história da luta contra a escravidão ao longo das
diversas gerações.
As armas e a poesia de Miriam Alves, escritora que há 30 anos produz literatura negra do Brasil para o mundo.
E ao olhar-me no espelho vi a mulher nua tranquila e me veio
a mente uma frase de Nelson Rodrigues: “Toda nudez será castigada.” E a mulher
nua sorriu; “Não toda nudez é exuziaca ”.
Miriam Alves é Pesquisadora de literatura negra. Foi integrante do Quilombhoje Literatura, no período de 1980 a 1989. Em 1995 esteve, como palestrante, em Viena/Áustria, apresentando o trabalho Resgate - texto poético performático. Participou da "1996 International Conference of Caribbean Women Writers and Scholars", em março de 1997 esteve no "Latin American Speaker Simposium" em Nova York, onde falou sobre o tema A Invisibilidade da Literatura Afro-feminina: de Carolina de Jesus a Nós, e em 2000 participou do encontro da "APSA - American Portuguese Studies Association". Organizou e co-editou o livro Finally Us, coletânea bilíngüe de poemas (inglês/português).
As
escritoras afro-brasileiras dos Cadernos Negros têm contribuído para a
visibilidade de temas relacionados aos afro-brasileiros. Os poemas algumas
vezes possuem um sujeito lírico que se identifica como feminino, outras vezes
não.
E em outras ainda, nos são fornecidos elementos que permitem identificar a voz enunciativa como um ser mulher e como um sujeito negro. E, assim, a partir do ponto de vista de escritoras afro-brasileiras, é tematizada a memória, seja ela referente a um indivíduo ou a um coletivo.
Dessa forma, a produção poética das afro-brasileiras constrói a memória dos afrodescendentes brasileiros, trazendo à tona os importantes papéis desempenhados pelas mulheres negras ao longo da luta pela liberdade ontem e hoje.
E em outras ainda, nos são fornecidos elementos que permitem identificar a voz enunciativa como um ser mulher e como um sujeito negro. E, assim, a partir do ponto de vista de escritoras afro-brasileiras, é tematizada a memória, seja ela referente a um indivíduo ou a um coletivo.
Dessa forma, a produção poética das afro-brasileiras constrói a memória dos afrodescendentes brasileiros, trazendo à tona os importantes papéis desempenhados pelas mulheres negras ao longo da luta pela liberdade ontem e hoje.
Os
negros são grande maioria de nossa população; entretanto, eles não têm ainda a
maioria das oportunidades. Se observarmos os bancos das faculdades perceberemos
o reduzido número de negros. Na Igreja isso não é diferente, são poucos os que
assumem a radicalidade do sacerdócio, num passado não muito distante, para ser
padre na Igreja católica era preciso “ter boa aparência” e até hoje precisam
conviver com o preconceito e a discriminação em relação às religiões de matriz
africana.
Estudo
do Ipea intitulado “Retrato das Desigualdades de gênero e raça”, aponta que no
Brasil “os negros são grande maioria entre os mais pobres, estão nas posições
mais precárias do mercado de trabalho e possuem os menores índices de
educação”. 69% dos domicílios que recebem Bolsa Família, 60% dos que recebem
Benefício de Prestação Continuada e 68% dos que participam do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil são chefiados por negros.
Na
verdade, os países hoje chamados desenvolvidos, descobriram que para uma nação
ser considerada como tal, precisa diminuir as diferenças sociais. Nesse
sentido, a adoção de cotas raciais não é uma invenção brasileira, países como
os EUA e a África do Sul aumentaram as chances de os negros entrarem no ensino
superior dessa forma. Foi no ano 2000 que as cotas começaram a ser
implementadas por aqui. Essa pode ser uma alternativa temporária na expectativa
de que o ensino público brasileiro forme alunos capazes de disputar as vagas de
igual por igual com estudantes das escolas particulares.
CULTURA INDÍGENA E REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO
NA LITERATURA BRASILEIRA
CULTURA INDÍGENA E REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO
NA LITERATURA BRASILEIRA
OS INDÍGENAS BRASILEIROS E
SUA CULTURA
A
cultura indígena é um conjunto de características que marca um determinado
grupo indígena.
Os
indígenas são uma fonte de conhecimento. Suas experiências passadas entre
gerações formou o que nós chamamos de cultura brasileira: diversificada,
heterogênea e peculiar.
A
força da cultura de negros/as e indígenas pode ser vista em todos os momentos
cotidianos da vida. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar,
celebrar e brincar, estão inscritas as marcas civilizatórias desses povos que,
ancorados na dimensão do sagrado, celebram e respeitam a vida e a morte,
mantendo uma relação ética com a natureza.
Os
habitantes nativos, que eram muito numerosos, viviam divididos em tribos, que
se espalhavam por todo o território que hoje constitui a nação brasileira,
tanto no litoral como no interior. Esses povos foram chamados de “índios” pelos portugueses, pois, inicialmente,
pensavam ter chegado às terras orientais denominadas “Indias”.
Os
índios, embora vivessem nas matas e florestas não eram desprovidos de cultura.
Possuíam uma organização social e política, divisão de trabalho, usos,
costumes, tradições e religião, que apresentavam variações entre as diferentes
tribos.
A
Língua, talvez o maior patrimônio cultural de um povo, também, variava muito, contudo,
podemos distinguir os principais troncos-linguísticos, a que se vinculavam as
numerosas tribos. São estes: os tupi-guaranis (habitantes do litoral);
macro-jês ou tapuias (habitantes do Planalto Central); aruaques e caraíbas
(habitantes da Amazônia).
Apesar
de os colonizadores terem implantado, de forma obrigatória, a língua portuguesa
como idioma nacional, o Português do Brasil assimilou muitas palavras das
línguas indígenas.
O
povo brasileiro herdou muitos costumes indígenas, como o de usar redes para
dormir ou repousar, tal qual fazem os índios em suas redes de palha, no
interior de suas habitações, à qual dão o nome de ocas.
Da mesma forma, a
culinária nacional agregou muitas iguarias inventadas pelos índios, como é o
caso do beiju ou tapioca, feito com a farinha de mandioca, que também é
utilizada no preparo da paçoca, hoje, um famoso prato da culinária nordestina,
que se faz socando a farinha e mandioca com carne seca num pilão de madeira.
A mandioca é também ingrediente indispensável na preparação do pato no tucupi, prato tradicional da cozinha paraense. A culinária do norte brasileiro, de modo geral, à base de peixe seco, constitui, sem dúvida, herança de nossos índios.
Mistura de Crença
As
crenças e rituais religiosos variavam de acordo com a nação indígena, mas, de
modo geral, acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos
antepassados. Havia algumas tribos indígenas que enterravam os corpos dos
mortos em grandes vasos de cerâmicas, onde depositavam também seus objetos
pessoais, o que demonstra a crença na existência de vida após a morte. A
cerimônia do Kuarup, ainda hoje praticada por índios do Alto Xingu é um
atestado de que essas tribos cultivam a espiritualidade através de rituais em
que reverenciam àqueles que já se foram, dando a eles o último adeus e
encerrando o período de luto.
A palavra religião é originária do termo latino “religare”, significa a
religação entre o homem e um ser divino. As referências sobre a religião dos
índios brasileiros estão ligadas aos mitos de cada povo porque os próprios
indígenas não usavam a palavra religião.
As crenças religiosas e superstições tinham um importante papel dentro
da cultura indígena. Fetichistas, os indígenas temiam ao mesmo tempo um bom
Deus – Tupã – e um espírito maligno, tenebroso, vingativo – Anhangá, ao sul e
Jurupari, ao norte. Algumas tribos pareciam evoluir para a astrolatria, embora
não possuíssem templos, e adoravam o Sol (Guaraci – mãe dos viventes) e a Lua
(Jaci – nossa mãe).
Traços indígenas, seus deuses e rituais
Eles tinham um conceito diferente do que era se religar a alguma coisa. Na verdade, para os indígenas há uma ligação com a natureza e dela com Deus.
Os
mitos seriam histórias com verdades consideradas fundamentais para determinado
povo ou grupo que vão caracterizá-las pela importância que eles contém. Também
pode ser definido de acordo com o nível de linguagem de um indivíduo ou a forma
dele se expressar e contar suas narrativas para o povo. Este, pode fazer
desenhos na areia, realizar atos de performance, dançar, cantar, gesticular,
tudo isso para melhor visualizar a história.
A
dança é uma das mais fortes expressões da nossa cultura. Elas aparecem em cerimônias tradicionais
importantes, como as festas de iniciação, e em eventos mais comuns, como nas
festas de comemorações ao dia dos professores ou dia das mães, por exemplo.
Também dançamos durante os dabucuris, que são festas onde um grupo oferece a
outro grande quantidade de frutas, peixe, ou caça. E para deixar as festas
animadas, a grande maioria dos nossos povos consome caxiri (bebida fermentada),
ipadú e tabaco. Nas vésperas das festas,
fazemos pinturas corporais com jenipapo e carajuru.
Nesse universo de 23 culturas, temos muitas semelhanças de danças entre nós, porém cada grupo possui sua versão. Por exemplo, na região do rio Uaupés praticamente todos os grupos dançam cariço, kapiwaya e japurutu. Mas cada grupo tem seus próprios cantos e danças, melodias e histórias. Há danças que são muito específicas de cada povo. Por exemplo, as danças dos índios Yanomami. Após consumir o paricá, eles incorporam seres da floresta e dançam imitando os sons e a forma de locomoção de animais, como onça, macaco etc
Os povos indígenas deixaram para a sociedade brasileira uma diversidade cultural que foi importante para a formação da população brasileira, tais como: dormir de rede, andar descalços, crença nas forças da natureza, e nos espíritos dos antepassados, nas lendas. Além da influência indígena na culinária brasileira, herdamos também a crença nas práticas populares de cura derivadas das plantas.
O Índio na Literatura Contemporânea
“A terra não pertence ao homem. O homem à terra pertence. Não
foi o homem que teceu a trama da vida. Ao contrário, foi por ela tecido”.
(Chefe Seatle)
E a
problemática da literatura de autoria indígena se amplia ao observar-se a
questão da autoria. Enquanto a Teoria Literária discute a morte do autor, uma
característica recorrente na escrita indígena é a autoria coletiva: o autor
individual dá lugar a formas-sujeito, segundo Almeida (ALMEIDA & QUEIRÓS,
2004), que agem como porta-vozes de toda a comunidade. Percebe-se claramente
que a tradição literária precisa de ajustes teóricos para comportar também a
produção textual de autoria indígena
Falar, hoje, em povos indígenas no Brasil significa reconhecer,
basicamente, seis
coisas:
1- Nestas
terras colonizadas por portugueses, onde viria a se formar um país chamado
Brasil, já havia populações humanas que ocupavam territórios específicos;
2- Não
sabemos exatamente de onde vieram; dizemos que são "originárias" ou
"nativas" porque estavam por aqui antes da ocupação europeia;
3- Os
índios que estão hoje no Brasil têm uma longa história, que começou a se
diferenciar daquela da civilização ocidental ainda na chamada
"pré-história" (com fluxos migratórios do "Velho Mundo"
para a América ocorridos há dezenas de milhares de anos); a história
"deles" voltou a se aproximar da "nossa" há cerca de,
apenas, 500 anos (com a chegada dos portugueses);:
4- Como
todo grupo humano, os povos indígenas têm culturas que resultam da história de
relações que se dão entre os próprios homens e entre estes e o meio ambiente;
uma história que, no seu caso, foi (e continua sendo) drasticamente alterada
pela realidade da colonização;
5- Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no território brasileiro estão historicamente vinculados a esses primeiros povos;
6- A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no Brasil do que do Brasil.
5- Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no território brasileiro estão historicamente vinculados a esses primeiros povos;
6- A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no Brasil do que do Brasil.
Embora
o censo indígena não seja considerado oficialmente, somos mais de 315.180
indivíduos sobrevivendo nos grandes centros urbanos. Viver na cidade grande não
nos faz menos indígenas; mas a nossa condição de indígenas urbanos a Funai não
vê e uma das provas da sua cegueira é não reconhecer a nossa existência nos
Estados do Rio Grande do Norte (com 394 indígenas autodeclarados), Piauí (com
314 indígenas autodeclarados) e no Distrito Federal (não informado).
Nós existimos; só não enxerga mesmo quem não quer ver. Para a Funai, os indígenas urbanos sequer estão inseridos no quadro de indígenas aptos a ser considerados indivíduos razoavelmente integrados à sociedade.
Nós existimos; só não enxerga mesmo quem não quer ver. Para a Funai, os indígenas urbanos sequer estão inseridos no quadro de indígenas aptos a ser considerados indivíduos razoavelmente integrados à sociedade.